Irmãs e Irmãos, paz e bem.
Com inspiração em Lucas, 10, 33, a Campanha da Fraternidade 2020 tem como tema: “Fraternidade e vida: dom e compromisso” e como lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”. Mais uma vez a Igreja do Brasil nos convida a refletirmos e, ao mesmo tempo, nos convoca ao compromisso, cuidado e defesa da vida de nossos irmãos e irmãs, bem como de nossa Casa Comum, ambos vítimas de um sistema cujo paradigma econômico gera morte e destruição.
Pensar “Fraternidade e vida” como “dom e compromisso”, a partir do Evangelho, ou seja, de Jesus Cristo, implica dar-se conta da realidade, das coisas que acontecem próximo e distante de nós, bem como das consequências de nossos atos e perceber que a convocação de Jesus Cristo é para termos atitudes de solidariedade e cooperação. A Campanha da Fraternidade 2020 é uma provocação para cada um de nós e para toda a sociedade, elucidando, a partir da Palavra, a proposta de Jesus que é a de “sermos fraternos”.
O chamado da Igreja através da Campanha da Fraternidade exige de cada um de nós compromisso com o bem comum e, considerando a realidade contemporânea, urge que sejamos conscientemente solidários e cooperativos. Cabe lembrar que em março de 2020 haverá em Assis, Itália, um encontro denominado a Economia de Francisco. Este encontro destina-se especialmente a economistas e empreendedores de todo o mundo e o objetivo é promover uma reunião mundial para debater a proposta do Papa Francisco por uma “economia que dá vida e não mata”. Este encontro pretende ser uma possibilidade para, junto com a sociedade, a nível micro, macro e global, refletir, dialogar e apresentar propostas que possibilitem a construção de um mundo mais humano, justo e fraterno. A Economia de Francisco será, portanto, uma grande colaboração do Papa Francisco e, concomitante, uma provocação especial a economistas, lideranças sociais, políticas e econômicas. A realidade aponta-nos: temos um sistema econômico gerador de morte, pois é injusto, desumano e insensível a qualquer grito de clamor. Nos dizeres do prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, é preciso propor um modelo de economia capaz de promover justiça ambiental e social. Portanto, é preciso premência nos debates sobre possibilidades de novas relações sociais que busquem a inclusão e um desenvolvimento que seja sustentável.
Para afrontarmos a realidade imposta a nós pelo sistema econômico, é fundamental conhecimento, reflexão, amadurecimento, envolvimento e ação consciente e coletiva a nível micro e macro; urge a disseminação de boas ideias; a criação de redes de interessados neste tema, em especial abertura de espaço para a construção de um novo modelo econômico com o protagonismo da juventude (desejo e esperança do Papa Francisco).
Fraternidade tem profunda relação com justiça ambiental e social; com cooperação e solidariedade. Sabemos que o sistema econômico e o mercado não se fundam na cooperação e solidariedade, mas na competição (desenfreada). Como assinala Bauman em Vidas Desperdiçadas, “ele nega o sentido humano de solidariedade; é excludente e eliminador; causa morte, fome, desemprego e caos para milhões de seres humanos”. Assim sendo, no bojo das transformações geradas pelo sistema econômico muitas vidas humanas se encontram em um cenário sombrio, porque estão sendo deixadas do “lado de fora”. Há, de fato, um banimento cruel. Podemos dizer que esta realidade, a maioria das pessoas “vê”; nem todas “têm compaixão” e, poucas “cuidam”. A temática da Campanha da Fraternidade/2020 é provocadora e coloca em relevo: não basta “ver”, é preciso “sentir compaixão” e “cuidar”.
Irmãs e Irmãos da Conferência da Família Franciscana do Brasil, quando o tema é Fraternidade, São Francisco e Santa Clara são grandes inspiradores. Ambos foram fraternos, solidários, comprometidos e estiveram em comunhão com os necessitados do tempo em que viveram nos idos de 1200. Tendo o tema da Campanha da Fraternidade 2020 como referência, ao fazermos uma análise da realidade social, política e econômica do mundo e de nosso país constatamos degradação da vida humana e de tudo que existe em nossa Casa Comum. Ora, Fraternidade e Cuidado com a Casa Comum são dimensões primordiais de nossa espiritualidade, por conseguinte, fazem parte da dinâmica de nossa experiência francisclariana. Sabemos que o dinamismo do seguimento de Jesus é gerar vida. Assim foi com Francisco e Clara de Assis e continua sendo para nós. O sinal decisivo de alguém que se diz franciscana ou franciscano está na vida que leva; ou seja, na experiência de viver o Evangelho, a exemplo de Francisco e Clara de Assis.
Pertencemos a uma grande Família, estamos espalhados em todas as Regiões do Brasil, exercendo as mais diferentes funções e atividades. Na busca de fidelidade ao Evangelho, “deixamos nosso sinal” onde estamos e por onde passamos. Sob a proteção de nossa Mãe Aparecida, sejamos instrumentos de paz e bem onde quer que estejamos e prossigamos nossa luta pelo direito dos mais pobres, pela preservação das riquezas de nossa Casa Comum, tendo presente especialmente a Amazônia querida que “apresenta-se aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, seu drama e o seu mistério” (Exortação Apostólica Querida Amazônia).
A cada um de vocês, Irmãs e Irmãos, fraterno abraço.
Ir. Cleusa Aparecida Neves, CFA
Presidenta da Conferência da Família Franciscana do Brasil