Da vida em oração com Santa Clara de Assis

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Legenda de Santa Clara nos narra a diligência com que ela se propunha para “recolher o veio do sussurro furtivo de Deus”.

Por este modo de ser, Santa Clara nos ensina a simplicidade com que devemos nos colocar, quando ousamos querer compreender a presença de Deus em nossas vidas. Um Deus que se dá por pura gratuidade, sem nada querer em troca do Seu Amor por nós.

Daí, também, a sua compreensão de que para ouvirmos a Deus, é necessário fechar os olhos e abrirmos a alma, auscultando, deste modo, no mais intimo de nós mesmos, a fala que toca no coração e transforma nossas vidas no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Seu esposo amado.

Deste seu modo de buscar ao Senhor, as suas Irmãs em São Damião assim relatam em seu Processo de Canonização:

“A bem aventurada madre passava tantas noites acordada em oração (Ir Pacífica I,7); ficando muito tempo deitada por terra, humildemente prostrada (Ir Pacífica I,9); rezava com muitas lágrimas, mas, com as Irmãs demonstrava uma alegria espiritual e nunca estava perturbada (Ir Cecília VI,4)” e, quando saia da oração “exortava e confortava as Irmãs, dizendo sempre palavras de Deus, que estava sempre em sua boca, pois não queria falar nem ouvir sobre coisas vãs e, as Irmãs, por sua vez, se alegravam como se ela estivesse vindo do céu (Ir Pacífica I,9); seu rosto parecia mais claro e mais bonito que o sol e suas palavras exalavam uma doçura inenarrável, tanto que sua vida parecia toda celestial (Ir Amata IV,4)”.

Deste testemunho de suas Irmãs, podemos então intuir com Santa Clara que na vida de oração está a fonte que nos possibilita uma profunda experiência de fé e, por esta, uma maior intimidade com Deus. Pois, na busca de “recolher o veio do sussurro furtivo de Deus”, para ela, a vida de oração não era simplesmente um suplemento ou um fato isolado de sua existência, mas, muito mais profundamente, era tida como a realidade mais importante, pois era aquela que dava forma e sentido a todo modo concreto de realizar a vocação a que se sentia chamada.

Nesta atitude de colocar-se nas mãos de Deus, de buscar tão somente a oração e o louvor do Altíssimo, lançando todas as suas preocupações a Cristo, porque a Ele mesmo pertencia o cuidado pela forma de vida que ela escolheu para si e para as suas Irmãs é que vemos, então, uma Santa Clara plena da ação do Espírito do Senhor e, em quem, pela graça recebida, as palavras, os gestos, as decisões pareciam estar muito mais sob o efeito de um impulso divino do que pessoal.

A oração na experiência de fé de Santa Clara e, portanto, na Vida Franciscana, revela o modo como a Irmã e o Irmão Menor devem levar “a Palavra de Deus no coração e o coração em Deus”. E, assim, com o coração, ou seja, com o centro da nossa decisão pleno, cheio desta única solicitude e vigilância na oração e no louvor divino, evitarmos toda forma de ociosidade inimiga da alma.

Neste mês de agosto, festa de Santa Clara, que a sua vida simples e marcada pela profundidade com que “abraçou o Cristo pobre como uma virgem pobre” (2CtIn 18), nos ensine como ela mesma reza, a nunca perdermos de vista o nosso ponto de partida e, deste modo, olhando, considerando e contemplando ao Filho de Deus que por amor deu Sua vida por nós, nos transformemos por inteiro N’Aquele que já é inteiro em nós.

E, em assim sendo, como ela mesma nos diria: “Desse modo, também você vai experimentar o que sentem os amigos quando saboreiam a doçura escondida, que o próprio Deus reservou desde o início para os que o amam” (3CtIn 14).

Boas festas de Santa Clara!
Frei Marco Antonio dos Santos, ofm

Fonte: Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil

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