Francisclareando – Mostrem-se mutuamente familiares…

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Desta vez, Francisco e Clara nos convidam a refletir sobre as relações familiares. Em República Dominicana, desde 1971, o mês de novembro é dedicado à família. É nossa primeira rede de apoio emocional e nela aprendemos, como por osmose, os valores essenciais à convivência: o amor, o cuidado, a confiança e entreajuda, o respeito e a tolerância, a solidariedade, a verdade e honradez, a disciplina, humildade…

Ainda que, tanto Clara como Francisco, tenham rompido com suas famílias para viver o projeto evangélico, são as relações familiares que ambos tomam como referência para expressar as relações na irmandade/fraternidade: “E com segurança manifeste um ao outro sua necessidade, para que encontre o que lhe é necessário e o sirva. E cada um ame e nutra seu irmão, como a mãe ama e nutre seu filho, naquilo em que Deus lhe der a graça” (RnB 9,10-11).

No eremitério, lugar de “solidão” também devem prevalecer as relações de amor familiar: “Aqueles que quiserem viver como religiosos em eremitérios não sejam mais de três ou, no máximo, quatro irmãos. Dois deles sejam as mães e tenham dois ou ao menos um por filho” (RE 1). Igualmente na relação com Deus somos família: “Estes são os filhos do Pai celeste, fazem as obras do Pai, são esposos, irmãos e mães de Nosso Senhor Jesus Cristo. Somos esposos, quando por virtude do Espírito Santo, a alma fiel se une a Nosso Senhor Jesus Cristo. Somos Irmãos de Cristo, quando fazemos a vontade do Pai que está nos céus; e somos Mães, quando o levamos em nosso coração e em nosso corpo através do amor divino e de uma pura e sincera consciência (1Fi 7-10a).

Clara por sua vez, é mãe ela mesma, e deixa em testamento a recomendação para que o relacionamento entre abadessa e irmãs tenha essa marca, sinal da bênção do Senhor: “Rogo também à que estiver a serviço das Irmãs que …seja também previdente e discreta para com suas Irmãs, como uma boa mãe faz com suas filhas, tratando especialmente de provê-las de acordo com as necessidades de cada uma… Mas as Irmãs que são súditas lembrem-se de que renunciaram à própria vontade por amor de Deus. Por isso quero que obedeçam à sua mãe, como prometeram ao Senhor, espontaneamente, de modo que sua mãe, vendo o amor, a humildade e a unidade que as Irmãs têm entre si, possa levar mais facilmente o peso que tem que suportar por causa do ofício …”. (TestC 61.63.67-69)

A bênção, praticamente de despedida, exala o mesmo perfume: “Deixo-vos isto por escrito, minhas queridas e amadas Irmãs, presentes e futuras, para que seja melhor observado em sinal da bênção do Senhor e do nosso bem-aventurado pai Francisco, e da minha bênção de mãe e vossa serva” (TestC 79). … Vos dê a paz a vós, minhas irmãs e filhas, e a todas as que no futuro hão de pertencer à nossa fraternidade… Eu, Clara, serva de Nosso Senhor Jesus Cristo, plantazinha do nosso pai São Francisco, irmã e mãe vossa e de todas as Irmãs Pobres…” (cf. BSC 4-6).

As testemunhas no Processo de Canonização falam com as mesmas palavras, exprimindo o mesmo sentimento de amor verdadeiramente familiar: “Amava as irmãs como a si mesma. As irmãs, por sua vez reverenciavam-na sempre como santa e mãe de toda a Ordem, tanto em vida como depois da morte…” (PC IV,18); …Escolheu-a Deus como mãe de virgens … (PC VI,2); … Depois entrou em São Damião, onde foi mãe e mestra da Ordem de São Damião e ali deu à luz muitos filhos e filhas, no Senhor nosso Jesus Cristo, como hoje se pode verificar (PC XX,7).

O testemunho e o ensino de Clara são um chamado, sempre atual, a superar a estreiteza dos laços familiares de sangue, abrir o coração à maternidade-irmandade universal e abraçar com calor materno, sobretudo, os que vivem à margem, os menos amados, filhas e filhos preferidas/preferidos do Pai.

Por Irmã Maria Fachini

Fonte: CICAF

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