O missionário italiano, padre comboniano Dario Bossi, tem os pés bem fincados na Amazônia. Ele trabalha em prol das vítimas do extrativismo predatório na região. Foi eleito pela União dos Superiores Gerais para participar do Sínodo para a Pan-Amazônia, no Vaticano, em outubro de 2019 e representar todas as pessoas que sofrem com o extrativismo na Amazônia. O religioso também é membro da Rede Igrejas e Mineração, da Comissão Especial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para a Mineração e a Ecologia Integral e assessor da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil).
Por ocasião, do Dia da Libertação Indígenas, marcada neste dia 30 de julho, ele falou com o portal da CNBB sobre o primeiro eixo da campanha “Amazoniza-te”, lançada na última segunda-feira, 27 de julho: “A Vulnerabilidade dos Povos Indígenas e comunidades tradicionais à contaminação pelo novo coronavírus, com destaque para a debilidade no atendimento e estrutura dos equipamentos públicos de saúde nos estados e municípios da região, aquém das condições de outras regiões do país“.
Sobre os outros dois eixos (Aceleração da destruição do Bioma e Violação sistemática da legislação de proteção ambiental e desmonte dos órgãos públicos), a ecóloga Ima Vieira, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi e assessora da Repam-Brasil, falará com o portal da CNBB na próxima semana.
Ação emergencial
Segundo o padre, o tema da emergência da Covid-19 entre os indígenas, mas também em geral, entre os povos da Amazônia, os ribeirinhos, os quilombolas, seringueiros, camponeses, é o tema mais urgente que sensibilizou para organizar esta campanha “Amazoniza-te”, que busca uma maior sensibilidade para a situação do bioma. “Se trata de um alarme urgentíssimo do qual o mundo ainda não tem consciência. Há um perigo em perder populações, memórias e vínculos ancestrais com os territórios extremamente preciosos”, disse.
Ele chamou a atenção para o fato de que quando se diz “que quando morre um cacique de uma aldeia indígena é uma biblioteca inteira que se queima” não é uma metáfora simbólica mas um fato concreto. “Infelizmente quem está morrendo mais entre as comunidades indígenas são estas figuras porque, geralmente, são os mais idosos, os que mais acumularam a sabedoria e a autoridade numa comunidade e os que mais circulam porque tem a responsabilidade de coordenar o grupo”, afirmou.
Padre Dário disse que as dificuldades para enfrentar o avanço do novo coronavírus na Amazônia não se referem só às questões indígenas. Ele chamou a atenção também para a emergência urbana, por exemplo, e no fato que a Amazônia, de todas as regiões do Brasil, é a menos servida com hospitais de média e alta complexidade, com uma média de apenas 10% destes, sendo que é também uma das regiões mais pobres do país. “Tudo isto configura uma urgência de enviar recursos e esforços para enfrentar a Covid-19 no bioma”, alertou.
Contraditoriamente, segundo o padre, a atitude do Governo Federal é exatamente oposta de negação desta urgência. “Os povos indígenas já o denunciaram por uma deliberada omissão de socorro frente à pandemia. O ‘genocídio’ por parte do governo federal é uma palavra que, agora, até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) estão usando para caracterizar este momento. Esta denúncia foi feita em âmbito internacional, no Tribunal de Haia”, informou.
O padre informa que a campanha “Amazonia-te”, neste eixo, buscará pressionar para garantir o socorro emergencial. Um exemplo, segundo ele, foi o Projeto de Lei nº 1142, que tem pressão da CNBB e da Repam-Brasil, e apoio da campanha, para que seja urgentemente colocado em pauta no Congresso Nacional barrar os vetos presidenciais de maneira que o projeto seja aprovado na sua integralidade e se garanta ajuda completa aos povos indígenas, tradicionais e pescadores da região no contexto da pandemia.
O padre informa ainda que as organizações parceiras da campanha atuarão numa perspectiva de médio prazo para buscar a resposta a como garantir a estes povos a auto sustentação, a continuidade da vida, a luta contra fome e pobreza, consequências imediatas da pandemia. “Uma saída é fortalecer projetos de economia solidária, agroecologia e produção local de sustentação destas comunidades. Tudo isto são necessidades que a campanha aponta, mas não de maneira isolada mas vinculada e articulada”, disse.
Fonte: CNBB