Sínodo da Amazônia – perspectiva da Juventude Franciscana

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Adrielly Alves da Silva
JUFRA, Fraternidade Frei Juvenal Carlson
Regional Norte III / Pará Oeste
Secretária Nacional para a Área Norte
Engenheira de Pesca


Graciele Silva Correia
JUFRA, Fraternidade Padre Zózimo
Regional Norte I / Secretária Fraterna Local
Acadêmica de Licenciatura em Geografia na Escola Normal Superior do Estado do Amazonas UEA

 

Em muitas bibliografias da área ambiental e social podemos encontrar citações sobre a Amazônia, sua diversidade de povos, biodiversidade de espécies na fauna e flora e a dinamização na relação entre o homem e o ambiente, mostrando com bases acadêmicas as riquezas dessa área, assim como, suas realidades e algumas mudanças ao longo do tempo (SIOLI, 1985, DIEGUE, et al., 2000, BEGOSSI, et al., 2004).

De acordo com Alves (1998), “A bacia fluvial do Amazonas possui 1/5 da disponibilidade mundial de água doce e é recoberta pela maior floresta equatorial do mundo, correspondendo a 1/3 das reservas florestais da Terra”. Assim, é evidente que a bacia amazônica é uma fonte de riqueza incalculável, e é de extrema importância para a população local, levando o sustento e a esperança de um povo que luta diariamente para ter os seus direitos respeitados.

Nas reflexões a partir do Sínodo para a Amazônia, no capitulo “Memória e Profecia da igreja na Amazônia, retrospectiva em dez passos, a partir do contexto brasileiro” escrito por Afonso Murad. O mesmo, inicia com a seguinte citação:

“Como um rio que serpenteia e faz muitas curvas, a Igreja percorre a história, e por onde passa traz a água viva do Evangelho que fecunda o solo da humanidade. A Igreja latino-americana e caribenha se compara a um grande rio, com seus numerosos afluentes. E a Igreja na Amazônia, a um afluente caudaloso e belo, com igarapés, ilhas e lagoas.”

Entre as duas citações se relatam o ambiente e a sua biodiversidade, a riqueza e grandeza da Amazônia. Mas algo que deve se ressaltar é a historicidade de ambos, nos artigos científicos as mudanças de ambientes e declínio de espécies e suas principais causas e nos documentos de assembleias e encontros de bispos na breve reflexão realizada por Afonso que segue a partir da Conferência de Medellín realizada em 1968 até Aparecida, onde se aponta as prioridades elencada em cada documento, sendo a Amazônia uma delas. Mas, exatamente como um “rio” que tem suas fases de águas altas e baixas, alguns desses documentos priorizaram mais o assunto “Amazônia” do que outros.

Papa Francisco em sua carta Encíclica “Laudato Sí” (FRANCISCO, 2015, p. 81). expõe que “para nada serviria descrever os sintomas, se não reconhecêssemos a raiz humana na crise ecológica”. Assim, o homem em busca de riquezas e progresso para melhoria de vida e bem estar social vem causando grandes impactos ambientais, intensificando o consumo de matéria-prima. Deste modo, nosso modo de vida tem ameaçado a preservação da biodiversidade da Amazônia, ameaçando a qualidade de vida das populações locais e das gerações futuras.

“Uma Igreja missionária em saída exige de nós uma conversão pastoral e ecológica. Para a Amazônia esse caminhar significa também “navegar”, através de nossos rios, nossos lagos, entre nosso povo. Na Amazônia, a água nos une, não nos separa” (documento final do sínodo, p. 9). Portanto, os rios da Amazônia são nossas estradas e devemos percorrê-las para sermos verdadeiros missionários, levando o amor e a palavra de Cristo como fazia são Francisco de Assis.

O sínodo da Amazônia para nós é sinal de esperança e construção de uma Fraternidade singular. Singular no sentido de expressar a voz de nossos irmãos ribeirinhos e povos originários, e manifestar a nossa luta pela defesa da nossa casa comum e em defesa da vida. Assim, esperamos que os frutos produzidos pelo sínodo da Amazônia sejam um sinal de amor pela criação, respeito ao próximo e suas manifestações culturais. A exemplo de São Francisco e como cristãos que pelo batismo fomos enviados a sermos missionários, devemos ser instrumentos de paz e esperança, levando nosso testemunho de vida, clamor ao cuidado com a criação, amor ao próximo como forma de evangelização.

Como Franciscanos e Franciscanas, assumindo o ideal de vida de seguir o evangelho de Jesus Cristo a exemplo de São Francisco, assumimos o compromisso de defender a vida e ter uma relação harmoniosa com a mãe natureza e, além disso,  transmitir com atitudes a conversão ecológica, fazendo que outras pessoas também possam praticá-las (“Pregue o evangelho a todo tempo, se necessário use palavras” São Francisco).

Dentre os diferentes rostos da imensidão da Pan-amazônica, vamos destacar o dos jovens espalhados por todo o território. São jovens com rostos e identidades indígenas, negros, ribeirinhos, extrativistas, migrantes, refugiados, entre outros. Logo, devemos ser jovens franciscanos engajados e comprometidos com a luta de nossos irmãos amazônicos para sermos verdadeiros “navegantes” e missionários.

Portanto, fica o questionamento sobre qual é o papel da Juventude Franciscana – JUFRA, para com os povos da Amazônia? “A tarefa da Igreja é acompanhá-los para enfrentar qualquer situação que destrua sua identidade ou prejudique a sua autoestima” (documento final do sínodo, p. 11). Assim, é importante, a exemplo de São Francisco, sermos conscientes da nossa missão “Vai Francisco, reconstrói a minha casa!”, para reconstruir a nossa igreja amazônica.

Como Jufristas, jovens filhos desse carisma francisclariano, temos o compromisso de sermos essa presença evangelizadora e agregar esse carisma na nossa formação. “Posso mudar o mundo ao meu redor, se eu começar por mim algo será melhor”, a busca de conhecimento e de seguir os passos de Francisco e Clara, procurando uma formação de personalidade cada vez melhor, que seja acolhedora e para se colocar a serviço do reino (“Queremos ser uma presença consciente, desafiadora, na realidade onde vivemos, captando nela os anseios e busca de libertação, para sermos agentes na construção de uma nova sociedade. O mundo cabe a nós salvá-lo ou perdemo-nos com ele.” 09. Manifesto da Juventude Franciscana).

Por fim, esperamos que o sínodo seja um grande sinal de esperança e amor, expressando o nosso clamor para com o cuidado da Amazônia e de nossos irmãos, os diversos povos de diferentes etnias, culturas e saberes.  Para tal, é necessário que haja mudanças no modo de pensar e evangelizar, adotando uma nova postura mais consciente das realidades e assim podermos ser uma Igreja de rosto amazônico e em saída missionária.

REFERÊNCIAS

ALVES, Luci Imaculada de Oliveira. CARVALHO, Rosângela Miranda de. LASMAR, Idárci Esteves. Espaço em Construção Geografia. 5ª. Ed. Belo Horizonte: editora Lê, 1998.

BEGOSSI, Alpina, et al. Ecologia de Pescadores da mata Atlantica e da Amazônia. São Paulo. Ed. HUCITEC: NEPAM/UNICAMP: NUPAUB/USP: FAPESP. 2004

DIEGUES, Antonio Carlos, et al. Os Saberes Tradicionais e a Biodiversidade no Brasil. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia legal. COBIO-Coordenadoria da Biodiversidade. NUPAUB-Núcleo de Pesquisas sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras—Universidade de São Paulo. 2000.

FRANCISCO.  Laudato sí: sobre o cuidado da casa comum. Documentos do Magistério. Paulus: São Paulo, 2015.

MURAD, Afonso. Novos Caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral. Reflexões a partir do Sínodo para a Amazônia. REPAM. Comissão Episcopal para a Amazônia.

SIOLI, Harald. Amazônia. Fundamentos da Ecologia da Maior Região de florestas Tropicais. Instituto Max-Planck de Liminologia. Editora Vozes. Petrópolis 1985.

Manifesto da Juventude Franciscana. Disponível em: www.jufrabrasil.org

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