Ana Raquel de Freitas Aleixo, JUFRA
Natural da cidade de Bodocó / PE, psicóloga, Secretária Fraterna da Fraternidade
Irmão Menor e Secretária de Formação do Regional Nordeste B1 PE/AL.
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O período pandêmico impactou diretamente as relações interpessoais. De um lado o isolamento social, de outro a ansiedade. Como ser presente e cuidar das pessoas que amamos nesse período?
Cuidar é um verbo, mas também é uma ação! A Pandemia trouxe a nós muitas consequências, alguns perderam empregos, perderam as pessoas que amavam e o isolamento social nos distanciou dos abraços calorosos e confortantes daqueles que amamos. Nesse período, é importante manter os laços afetivos, seja por uma ligação, chamada de vídeo, uma mensagem, através da demonstração de amor, carinho e afeto pelo outro. É preciso ser empático, e está pronto a ouvir essas pessoas de uma maneira dedicada, paciente, muito cuidadosa e sem julgamentos, para que elas se sintam amparadas e saibam que não estão sozinhas nesses momentos difíceis.
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Como surgiu e qual o público-alvo da Campanha Setembro Amarelo?
O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização e sensibilização da população que traz discussões e debates muito importantes sobre o suicídio, ela vem para incentivar o diálogo, buscar e proporcionar espaço de apoio e oportunidades para as pessoas conversarem sobre o suicídio. No Brasil, a Campanha do Setembro Amarelo teve origem em 2015, tendo suas primeiras ações dirigidas pelo Centro de Valorização a Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Ao longo do tempo, outros órgãos, como o Conselho Federal de Psicologia (CRP), foram unindo suas forças e participando dessa campanha.
O Suicídio é a expressão extrema do sofrimento humano e um problema de Saúde Publica Mundial. Segundo a OMS, por ano acontecem cerca de 700 mil mortes de suicídio e a sociedade responde a esses índices com o silêncio. Falar sobre esse tema ainda é um tabu. Mas quanto mais falarmos sobre suicídio, será possível amparar as pessoas que sofrem e encontrar soluções que minimizam esses altos índices. A pessoa que tenta o suicídio não quer se matar, quer apenas diminuir aquela dor.
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Para este ano, em meio a pandemia da COVID-19, a Campanha de Prevenção ao Suicídio propõe como tema Agir Salva Vidas! Poderia compartilhar conosco sobre os fatores de risco e sinais de alerta que podem auxiliar na prevenção?
É importante se pensar que a melhor maneira de prevenir o suicídio é promover a saúde mental. Por isso, o Setembro Amarelo, em especial, é um mês voltado para falar sobre a importância de cuidado da mente e evitar o pior. Não existe uma lista aparente que você possa prontamente dizer que através desses sinais a pessoa vai cometer suicídio, são os indicativos que você pode observar e juntar em um contexto. Mudança de comportamento repentino, mudanças de hábitos, isolamento familiar, apatia, mudanças drásticas no humor, sentimentos de cansaço, irritabilidade e, algumas vezes, o sono intercortado podem ser sinais de alerta.
Por isso, é preciso prestar atenção no comportamento dessas pessoas e, principalmente, na fala que muitas vezes vem carregada de reclamações, dificuldades de administrar a vida, do peso de muitas responsabilidades, da falta de saúde, e, pela falta de informação, muitas vezes nós acabamos não percebendo.
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No Brasil são mais de 12 mil mortes por suicídio por ano. Como a JUFRA, OFS, Vida Religiosa Consagrada e a população em geral podem contribuir para a prevenção ao suicídio, seja na fraternidade, na escola, na universidade, no trabalho e principalmente na família?
O suicídio é a 4° maior causa de morte entre os jovens de 14 a 29 anos. E, para que possamos ajudar nossa juventude e contribuirmos de forma eficaz com a diminuição do agravamento das estatísticas de suicídio, é importante antes de tudo não julgar e banalizar o sofrimento do outro. As pessoas que se mataram, frequentemente, avisaram em algum momento que não estavam dando conta.
Não é só a tristeza, tem pessoas que não se entristecem visivelmente, mas mesmo assim elas atentam contra a própria vida. Na nossa cultura nós não fomos ensinados a lidar com os sentimentos. Falar, perceber e conduzir os sentimentos é tido como fraqueza, e nós precisamos desmistificar isso e mostrar que falar é importante e ainda é a melhor forma de salvar vidas.
Por isso, enquanto Família Franciscana comprometida com a vida e com os nossos irmãos e irmãs, precisamos nos mobilizar, precisamos proporcionar espaços de acolhimento para esses jovens e dar abertura para se falar sobre esse assunto, pois, ao contrário do que muitos ainda imaginam, conversar sobre o tema não influencia o ato, mas sim, ajuda a dar suporte, atenção e orientação adequada. É importante ter empatia, estar aberto ao diálogo, observar os comportamentos fora do comum e oferecer apoio. O diálogo pode ajudar a expor sentimentos, muitas vezes angustiantes e nos dá a oportunidade de incentivar o jovem a buscar apoio profissional.
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A maioria dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais (depressão, transtorno bipolar e abuso de substâncias). Quais os serviços que estão disponíveis sejam a nível de Juventude Franciscana, sejam a nível social?
Existem muitos canais, dentre eles tem o Centro de Valorização da Vida (CVV) que é um serviço de acolhimento terapêutico que realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo onde possuem pessoas treinadas para acolher, pelo telefone 188 e pelo site www.cvv.org.br. Vocês também poderão encontrar nas suas cidades clínicas sociais, serviços públicos municipais (CAPS), que tem uma rede que é preparada para atender as pessoas com sofrimento mental e devemos acionar canais para solucionar esse quadro.
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No mês vocacional também celebramos o dia da psicóloga, 27 de agosto. Como foi seu processo de encontro, formação e de atuação diante das diversas situações que a vida se encontra?
“Encontrei o significado da minha vida, ajudando os outros a
encontrarem o sentindo de suas vidas” (Viktor Frankl).A palavra vocação vem do latim vocare que significa chamado. Todos os dias somos convidados como cristão e como sociedade a servir e ajudar o nosso próximo, as pessoas que sofrem e precisam de nós! Essa frase de Viktor Frank descreve minha construção profissional. Ao longo das experiências vivenciadas, fui encontrando o sentindo da minha missão colocando o conhecimento da psicologia a serviço do outro e do irmão que sofre. Quando escolhi seguir essa profissão sabia do meu compromisso com o outro, da responsabilidade, do cuidado e da empatia. Entrar em contato com a vida e a fragilidade do paciente, é você se dedicar em ajudar o seu íntimo! Enquanto Profissionais de Psicologia, somos convidados a intervir não só no sofrimento de um indivíduo diretamente, mas sim intervir em toda a sociedade, convidando-os a recordar o seu ponto de partida e os lembrando que fomos criados por amor e para o amor!
REFERÊNCIAS
ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). Suicídio Informando para prevenir. Brasília 2014. Disponível em: <https://www.setembroamarelo.com>.
APS/OMS. Uma em cada 100 mortes ocorre por suicídio, revelam estatísticas da OMS. Disponível em: <https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2021-uma-em-cada-100-mortes-ocorre-por-suicidio-revelam-estatisticas-da-oms>.
FRANKL, V. E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes, 1991.
A entrevista da Ana Raquel de Freitas, sobre o Suicídio, é de grande importância para refletirmos o momento que estamos vivenciando no mundo, e de forma peculiar no Brasil. Vivemos uma pandemia de vírus e de Fake, que está desestabilizando a vida das pessoas, levando-as para um poço profundo. Como franciscano da OFS e missionário indigenista, sei o quanto ainda temos que aprender para dialogar com criação, diante de uma modernidade que nos prende a uma tela. Como franciscanos e franciscanas, devemos elevar os nossos olhares para bem longe e perceber o que Francisco percebeu em sua entrega a mãe natureza, vendo-se como parte integral dela. Francisco encontrou Deus, exatamente onde ele e os povos indígenas conseguem perceber. Francisco viu e viveu em conectividade com a mãe terra e seus habitantes no mais belo e puro amor. A Raquel em suas palavras, nos desperta para perceber a importância que temos um para o outro, levando-nos a uma felicidade verdadeira, plena de alegria e em unidade com um todo. Que lembremos sempre, de nossa missão e nosso compromisso com a vida! Presente em mim, presente em vocês e em toda e qualquer forma de existência que nos une ao Criador.Parabéns Raquel! Parabéns a CFFB, pelo lindo trabalho realizado!
Paz e bem!
Grata pela oportunidade em contribuir na disseminação do amor a vida!🌻🙏🏼❤️