Só o amor é capaz de doar-se por inteiro!
Celebrar a festa de São Francisco de Assis é fazer memória de sua vida-missão contextualizada em seu tempo. É contemplar o processo mistagógico do seu caminho de conversão e de aproximação do mistério do crucificado.
Foi contemplando o Crucificado que Francisco desvendou o mistério da encarnação de Deus por entender que só o amor é capaz de doar-se por inteiro, na gratuidade. “Não há maior amor que dar a vida pelo irmão”. O encontro com Jesus, Pobre e Crucificado, mudou completamente a relação de Francisco com Deus, consigo mesmo, com os outros e com a criação. Em tudo trasbordava o amor apaixonado de Deus. Livre e despojado, colocou-se inteiramente à disposição da vontade de Deus: “Senhor que queres que eu faça?” E depois do encontro com Jesus na Palavra, onde Jesus envia os seus discípulos, Francisco proclama com toda convicção: “é isto que eu quero, é isto que eu procuro é isto que desejo de todo o coração”
A forma contemplativa de viver transformou Francisco em pessoa profundamente agradecida, transbordando gratidão por todo bem recebido. As criaturas passam a ter valor em si mesmas, refletindo, cada uma à sua maneira, a sabedoria e bondade de Deus. Esta experiência inspirou em Francisco a espiritualidade do cuidado, da ternura, da paz, da irmandade universal. Tudo passou a ter um novo sentido.
Vivemos um tempo histórico em que o mundo está dividido, fragmentado, desorientado, adoecido. O ter e o poder se sobrepõem a todo custo, sem se importar com a sobrevivência do Planeta. Como francisclarianas, somos convidadas a cultivar a espiritualidade contemplativa e horizontal, com ouvidos, olhos e coração abertos, de forma que possamos olhar para os lados, ver, sentir e ouvir os gritos e clamores que nos chegam com as mais variadas vozes: doentes, desempregados, pobres, injustiçados, mulheres, crianças, refugiados, migrantes, indígenas, ribeirinhos, juventudes, sem-terra e sem teto… e a terra ferida. Diante destes gritos e clamores que ecoam em nossos ouvidos, que saltam aos nossos olhos e doem em nossos corpos, repetimos as palavras de Jesus: “A messe é grande e os operários são poucos”.
Um mundo novo só será possível na soma das responsabilidades de cada pessoa e grupos na construção das mudanças que tanto esperamos. A realidade atual é um convite a olhar para o nosso caminho e gestar uma realidade nova, com novos projetos e outro jeito de viver: mais humano, mais ético e solidário. Aproveitemos este tempo de graça em que somos convidadas a escutar nossa realidade congregacional, pessoal e comunitária, a fim de podermos responder ao grito da Mãe Terra que se une ao grito dos pobres, clamando por socorro, compaixão e cuidado.
Então irmãs, “avancemos juntas, com confiança e alegria”, discernindo coletivamente onde e como podemos responder francisclarianamente aos apelos que Deus nos faz por meio dos gritos que nos vêm das fronteiras, das periferias e da terra ferida. Que o testemunho de Francisco e Clara de Assis sejam nossa inspiração nesta caminhada!
Nosso abraço carinhoso às irmãs da Província São Francisco de Assis, pela festa de seu padroeiro! Parabenizamos cada irmã pelo sim corajoso e generoso ao chamado de Deus “para trabalhar em sua vinha”.
Por Irmã Marlene Chiudini – pela Coordenação Geral