Entrevista: Fraternidade e Amizade Social, com Irmã Vania Martins, CIFA

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IRMÃ VANIA SIMONE MARTINS, CIFA

Brasileira, licenciada em Letras Português e Literatura, PUCRS. Pós-graduada em Espiritualidade Franciscana, ESTEF. Cursa Especialização em Direito da Vida Religiosa, Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo. Pertence à Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora Aparecida e atualmente é a Primeira Conselheira Geral e Secretária Geral.

1. O que é Fraternidade e Amizade Social, tema da Campanha da Fraternidade 2024?

Acredito ser um chamado ao Evangelho. Todos somos irmãos e irmãs em Cristo, então é nossa missão viver a amizade social. É uma proposta de vida, um retorno às origens como cristãos e cristãs, como discípulas e discípulos, um caminho de humanização, de diálogo, de construção da cultura do encontro. É claro que isso nos exige um processo de conversão de mentalidade, do olhar, do sentir, de conviver; uma conversão e educação do coração a partir do Evangelho e para o Evangelho.

2. A Quaresma é um tempo de fortalecimento da oração, penitência e caridade. O que é necessário analisar, redescobrir, aprofundar e estimular à cerca da Campanha da Fraternidade deste ano?

Nós vivemos em tempos de muita violência, discriminação, exclusão, segregação por sexo, raça, gênero, cultura… Tempos de muita tensão, de relações frágeis, supérfluas e violentas entre as pessoas e com a Casa Comum. A Quaresma nos convida a analisar como eu vivo minhas relações, como está meu olhar para o outro, a outra, meus sentimentos diante da realidade e fragilidade da vida, da humanidade, da criação. Estou indiferente? Minhas referências estão onde, em mim mesmo? Tempo de redescobrir a pessoa de Jesus Cristo que nos ama tanto a ponto de doar-se totalmente, dar sua vida para que tenhamos vida… e, a partir Dele e com Ele, viver segundo a Boa Nova do Evangelho. Aprofundar as relações de amizade, respeito, solidariedade, sinodalidade, justiça e tantos outros valores que brotam do Evangelho e de um coração movido pelo Espírito do Senhor e seu santo modo de operar.

Mas, para tal, precisamos fortalecer-nos na oração, na penitência, na caridade, e eu diria mais, na gratuidade. A amizade social requer gratuidade: estar e ser para o outro, o irmão, a irmã, na gratuidade, sem ‘comercializar’ nossas relações com as pessoas, com a Criação e com Deus.

3. Vivemos em uma sociedade polarizada, intolerante, amedrontada, pobre culturalmente e suscetível a discursos radicais e fundamentalistas. Como a Campanha da Fraternidade nos pode ajudar a promover a conscientização para uma construção unida à pluralidade e à reconciliação, pois somos todos irmãos e irmãs?

É difícil entender que nossa sociedade, onde grande parte se diz cristão/cristã, seja assim. Então a Campanha nos ajuda a voltar-nos a Jesus, ao Evangelho. Ele nos diz como nos relacionar. Ele é o nosso Mestre: amou a todos e todas, sem distinção; deu a sua vida na cruz pela humanidade, não foi por um grupo de pessoas. Este é o desafio nesta Quaresma, a partir da Campanha da Fraternidade, nos grupos, nas comunidades, nas paróquias, na nossa Igreja: sermos testemunhas de Jesus que acolheu, escutou e amou a todos, todos, a todas, todas; ir vivendo e fazendo nosso caminho de conversão para o amor, com amor, na gratuidade, sem julgamentos, com misericórdia…

4. Temos acesso a inúmeros canais, perfis, influenciadores digitais. Porém, grande parte de nossos irmãos e irmãs não possuem uma formação criteriosa de conteúdo, sendo vítimas de desinformação e destiladores de preconceito e ódio. À luz da temática da Campanha da Fraternidade deste ano, quais modelos educativos, para este acesso à informação, você indica?

Infelizmente, não somos educados para ter critérios, para pensar, questionar, nem na escola e nem na nossa catequese. Acredito que, se qualquer canal, grupo ou ideia desfaz o outro, exclui, diminui grupos, não deve e não pode ser seguido, apoiado por quem se diz discípulo, discípula de Jesus. Ao acessar qualquer conteúdo, perguntemos: ajuda o Reino de Deus? Há sementes do Verbo?

Devemos educar-nos para a acolhida ao outro, o respeito pelas diferenças, a capacidade de diálogo e de encontrar soluções aos problemas que afetam a todos, soluções que sejam boas para todos. Dinamizar modelos educativos que priorizem a vida, a dignidade e o cuidado das pessoas e da Casa Comum.

5. Como Família Franciscana e plural, de que forma é possível organizar-nos para estimular a espiritualidade, os processos, os hábitos e as estruturas de comunhão e solidariedade na Igreja e na sociedade?

Como Família Franciscana temos comunidades, grupos, escolas sob nossa coordenação e administração. São espaços privilegiados onde devemos fomentar encontros, conversas, diálogos sobre o tema da CF, não só na Quaresma senão durante o ano todo.

Os Regionais podem pensar e organizar momentos de diálogo, ações que colaborem nessa construção de relações fraternas e de amizade social.

Como Família Franciscana sejamos testemunhas de que vivemos entre nós essa amizade, essas relações fraternas, equitativas, solidárias, sinodais.

6. Quais as aproximações dos 800 anos dos Estigmas de Francisco de Assis hoje e a Fraternidade e Amizade Social?

Celebrar os 800 anos dos Estigmas de Francisco é celebrar um processo de conversão de um homem histórico que assumiu o Evangelho como Regra e Vida. Ele desejou ardentemente viver o Evangelho – a dor e o amor de Cristo. Ao celebrar este jubileu, vamos nos converter e viver com amor as dores de nosso tempo. Não sejamos indiferentes, senão sensíveis às dores do Crucificado neste tempo e o amemos para que haja vida e vida em abundância.

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