Neste domingo (13) já no finzinho do Tempo da Páscoa, cristãos de diversas denominações, como os católicos, celebram a solenidade conhecida como Ascensão do Senhor. Ela refere-se à conclusão da missão de Jesus, que “passa o bastão” para seus amigos e amigas. Jesus enviou-os a mudar o mundo e a si próprios, a disseminar a Boa Nova de um tempo-lugar chamado “Reino de Deus”. Não mandou ninguém ficar olhando para os céus, orar piedosamente, erguer palácios ou promover campanhas de ódio.
Por Mauro Lopes
O texto sobre o qual se medita nas missas deste dia é extraído do Evangelho de Marcos (Mc 16,15-20), exatamente a passagem da ascensão. Como observou o excelente biblista da novíssima geração no Brasil, padre Francisco Cornélio, depois dos estudos bíblicos dos últimos 100 anos já se dá como certo que este trecho não estava no texto original do Evangelho e foi acrescentado décadas depois.
O episódio da ascensão de Jesus aparece em Marcos (como adendo posterior) e em Lucas (Lc 24, 50-53) e há referência a ele no início do texto que relata a missão e vida das primeiras comunidades cristãs, o Atos dos Apóstolos (At 1, 9-11), cuja redação usualmente atribui-se ao mesmo Lucas. Não há qualquer referência ao episódio em Mateus ou João.
Há consenso também de que as passagens de Marcos, Lucas e dos Atos dos Apóstolos sobre a ascensão não são relatos jornalísticos, mas teológicos, voltados à animação das comunidades nascentes que sobreviviam debaixo de perseguição, divisões e ondas de desânimo.
O que há de comum em todos os textos evangélicos? O fato de que o discurso final de Jesus era uma orientação para que seus amigos e amigas saíssem a campo a anunciar a Boa Notícia de que havia e há um novo tempo e lugar (que ele chamava de “Reino de Deus” ou “Reino dos Céus”) onde deixarão de ser prevalecentes a injustiça, a fome, as doenças desassistidas, a exploração e a dominação da grande maioria por uma minoria privilegiada que dominava e domina o Templo (as religiões) e os reinos (governos). Vale ler a bonita reflexão de outro biblista brasileiro jovem, frei Gustavo Medella, exatamente sobre esse “envio missionário”.
Não há em nenhum dos textos, qualquer menção de Jesus quanto a construir palácios, rezar piedosamente, promover “guerras santas”, discriminar pessoas, juntar dinheiro.
Cristianismo é seguir o Mestre e atender a convocação do discurso das Bem-Aventuranças para marchar com ele, como reafirmou Francisco na sua Exortação.