Santa Clara: um projeto de vida que clareia e faz o caminho ser percebido – parte I

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Santa Clara, um projeto de vida
O texto que dá início a Bula de canonização de Santa Clara, diz que “Clara, preclara por seus claros méritos, clareia claramente no céu pela claridade da grande glória, e na terra pelo esplendor dos milagres sublimes” e revela a imagem desta jovem senhora, que marcou a Igreja e o mundo com seus ideais e o modo simples como procurou seguir Jesus Cristo.

É claro que tanta claridade, pintada em letras canônicas e escritas no coração dos que conviveram com ela ou ouviram contar sua história de vida, não se deu em um simples acaso e certamente não foi da noite para o dia que conquistou tão elevada santidade. Trata-se de um processo! Processo de amadurecimento, inquietantes reflexões, convictas reivindicações e acima de tudo, de muito discernimento e constância nos propósitos.

O clarear, tão poetizado na literatura e nos documentos da Igreja acerca de Santa Clara, remete ao fenômeno da natureza que dá início ao dia. Dá ideia de começo, quase que nos dizendo para observar aquela noite escura que aos poucos será tomada por um fenômeno novo. Uma novidade que dá a possibilidade de perceber as cores e a beleza das coisas que estavam despercebidas, como que cobertas pela escuridão e impossibilitadas de mostrarem-se como realmente são.

É esse processo de desnudar as coisas, tirar o que atrapalha a boa visão, permitir que as coisas se deem naturalmente, que encontramos no testemunho de vida da jovem Clara e no percurso de sua caminhada. Isso consequentemente inovou e fez ter um colorido próprio, aquilo que a tempos não se via com tranquilidade.

É bem verdade que o projeto de vida assumido por Clara de Assis não se distancia em momento algum do projeto de vida assumido pelo jovem Francisco, também de Assis. Estão correndo na mesma esteira, trilhando o mesmo caminho e o segredo que fez junta-los neste ideal tão estreito, que os fizeram unir-se tanto, está no Testamento de Clara e diz: “O Filho de Deus fez-se para nós o Caminho, que nosso bem aventurado pai Francisco, que o amou e seguiu de verdade, nos mostrou e ensinou por palavra e exemplo” (Test 5).

A experiência de Francisco e de Clara se convergem no Filho de Deus, Aquele que “se fez o Caminho” (Test 5). Essa realidade tão elevada e ao mesmo tempo tão próxima à vida humana foi a e-vocação que provocou Francisco a deixar tudo e ir para bem perto dos leprosos e excluídos, fazendo a experiência de Jesus Cristo com amor e dedicação total.

Do mesmo modo, o testemunho de Francisco chegou a Clara como que convocando-a ao mesmo Caminho. Ela, uma jovem menina, já estava inflamada pela vocação de clarear o mundo e com isso foi descobrindo e clareando, outra vez, as cores sujas “daquele Deus que pobre foi posto no presépio, viveu pobre no mundo e ficou nu no patíbulo” (Test 45).

Esta radicalidade de Deus estava no esquecimento coletivo da Igreja. Mesmo que houvesse quem queria retomar esse modo simples de enxergar o Senhor, a arte e a literatura apontavam para uma figura gloriosa, cheia de muitas honras e distinções. Clara se volta para a beleza escondida, aquela que a escuridão da noite não permitia ver. No centro de sua vida está esse Jesus pobre, humilde e crucificado.

Frei José Aécio de Oliveira Filho, OFM

Disponível em: http://www.ofmscj.com.br/?p=10487

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