É bem verdade que dentre as intuições de Clara está a vida em Irmandade. Orientada por Francisco, foi viver no mosteiro beneditino, mas certa de que o chamado de
Deus para sua vida estava junto de Francisco e do modo fraterno e pobre de viver o Evangelho.
Não se pode dizer qual elemento tem maior valor para Clara, a Pobreza de Cristo assumida voluntariamente ou a Irmandade tão sonhada por Jesus. São duas dimensões que se complementam e delineiam a vida de seguimento ao Cristo. Estes são os dois pilares para viver o Evangelho na itinerância de Francisco ou na casa de Clara.
Porém, a claridade que surgia na Igreja e no mundo trazia uma série de questões, assim como o dia que acaba de nascer traz as inseguranças e a incerteza do que virá. Clara, cheia de clarezas, ou não, precisou esclarecer todas as dúvidas e não só isso, precisou ser firme no propósito abraçado. Queria ser pobre e irmã!
O escândalo da pobreza de Clara soou na Igreja como o escândalo da pobreza de Jesus, que sendo Deus assumiu a vida do humano. A vida religiosa na Igreja já tinha sua configuração própria e não previa o que Clara estava propondo a si mesma e as irmãs que chegaram junto dela.
Porém, já era chegada a hora de nascer um novo dia, o clarão já estava vindo e com ele uma novidade de vida. Francisco, mesmo na escuridão, cruzou o horizonte, tocou o misterioso ato de Deus que se uniu definitivamente ao homem e trouxe Clara para bem perto. Ela, com Francisco, clareou! As cores próprias da consagração total a Deus, feita voluntariamente por mulheres e homens, já poderiam ser vistas na Igreja, mesmo que não fossem ainda compreendidas.
A luta de Clara para conseguir o privilégio da pobreza, tão temido pelo papa que se preocupava tanto com a “fragilidade” daquelas damas em condições precárias dentro do mosteiro, mostrou ao mundo e à Igreja a força e a resistência da mulher. Diante do papa e até mesmo de Francisco, Clara quebrou os paradigmas sociais e culturais do seu tempo e foi capaz de concretizar a experiência do seguimento de Jesus pobrezinho, com outras mulheres na irmandade em São Damião.
Faz-se importante destacar que a beleza descrita em tal experiência de vida, não exclui os dissabores da missão e muito menos as incompreensões que sobrevieram contra Clara e o Propósito de Vida iniciado. Porém, Clara perseverou até o fim.
Incentivou tantas outras mulheres e homens a viver o Evangelho radicalmente e mesmo quando todos os argumentos vierem e tentarem persuadi-las de aceitar posses e facilidades na vida, aconselhou Inês, que vivia em Praga, a “não perder de vista o ponto de partida, conservar o que tem, fazer o que está fazendo e não o deixar” (2CtI, 11).
A fidelidade de Clara ao projeto franciscano de viver o Evangelho, em fraternidade e pobreza, tornou-se o clarão para tantos outros e outras que vieram depois, seja na Ordem das Irmãs Pobres ou na Ordem dos Frades Menores. O diferencial clariano repousa também no vigor de Permanecer no Caminho e consequentemente, tornar-se um possível caminho para outras e outros.
A certeza de Clara é também a nossa: “O Senhor que deu o bom começo dá o crescimento e também a perseverança até o fim” (Test 78).
Frei José Aécio de Oliveira Filho, OFM
Disponível em: http://www.ofmscj.com.br/?p=10492